História da Comunidade Quilombola Campos Correia

 A Comunidade Quilombola Campos Correia está localizada no município de Corumbá, em Mato Grosso do Sul. Corumbá fica a 425 quilômetros de Campo Grande e próximo à divisa com o país da Bolívia. Região que faz parte do Pantanal sul mato-grossense. 

 Vindos de Poconé/MT para a região pantaneira, Fermiana de Campos Correia e Teodoro Correia se estabeleceram em fazendas por um longo período de suas vidas. Esses seriam os tempos do mato. Em torno de 1970 migraram para Corumbá. 

 Ficaram hospedados em uma pensão no Porto Geral para, depois, morar junto a um parente do senhor Teodoro e, posteriormente se estabelecer às margens do Rio Paraguai. A comunidade formou-se, então, pela ocupação familiar de uma terra que passou a ser habitada pelo casal e seus filhos. O território tornou-se então um bem coletivo.

Figura 1 – Localização e mapa do Mato Grosso do Sul/BR

Figura 2 – Localização e mapa do município de Corumbá/MS

 O mapa abaixo identifica a localização das três comunidades reconhecidas pela FCP na área urbana do município de Corumbá-MS e os respectivos bairros, Borrowisk e Nossa Senhora de Fátima. Com destaque também para a ilha do Pescador, área reivindicada pela comunidade Família Osório.

Figura 3 - Mapa de localização das comunidades quilombolas no município de Corumbá-MS

Fonte: Souza (2024)

 O local, conhecido como “Buracão da Treze”, que de acordo com a Ata n.º 01 de autodefinição da Comunidade Negra Ribeirinha Quilombola Família Campos Correia, ocupam desde 1975: “A região ribeirinha não era muito habitada, não havia serviço de energia, água e tinha muitos bichos peçonhentos”.
  Filho caçula dos fundadores e primeiro presidente da Associação Quilombola Família Campos Correia (AQF2C), Paulo Correa recorda que “não tinha nada, era mato, só uma estradinha. Moraram na casa de um moço e arrumaram um terreno e construíram” . Depois, ocuparam o atual espaço devido às enchentes e inundações do rio Paraguai.

Figura 3 – Paulo Correa (primeiro presidente da AQF2C) com o brasão da comunidade

Fonte: Acervo da AQF2C (2024)

 D. Fermiana teve sua história entrelaçada com o Pantanal. Em território matogrossense os diversos afluentes do rio Paraguai foram os caminhos utilizados para chegarem às fazendas e depois a Corumbá/MS. O senhor Teodoro voltado ao trabalho como peão e pescador, nas fazendas pantaneiras, buscava o sustento da família

Figura 4 – D. Fermiana Correia

Fonte: Acervo da AQF2C (2024).

 A presidente atual da Associação Quilombola Família Campos Correia, Stefany Correia Xavier lembra que o avô era pescador ao se referir ao brasão da comunidade (ícone que identifica a comunidade), faz referência também à sua avó e a sua origem africana. O nome ‘Campos Correa’ está relacionado com o sobrenome da família. Campos se refere à matriarca dona Fermiana e Correia ao patriarca Teodoro.

Figura 5 – Stefany Correia Xavier (Presidente da AQF2C)

Fonte: Acervo da AQF2C (2024)

Figura 6 – Brasão da AQF2C

Fonte: Acervo da AQF2C (2024).

 A certificação de Autodefinição da Comunidade de Família Campos Correia ocorreu em março de 2013, pela Fundação Cultural Palmares. Por outro lado, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) iniciou o relatório antropológico que, uma vez finalizado dará início ao Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) da Comunidade, que definirá seu território tradicional. 

 Com sete famílias residindo na comunidade devido à redução do espaço, já que parte dele, segundo os moradores, foi apropriada ao longo dos anos. Os outros familiares residem em alguns bairros da cidade e esperam ansiosamente a demarcação do território para voltarem à comunidade.

Figura 7 – Árvore genealógica da Família Campos Correia

Fonte: Souza (2021)

 A perda de terras pelos quilombolas Campos Correia está relacionada à ausência de titulação da terra. O pequeno território hoje está cercado por um lado de um muro alto com concertina. 

 O que tem provocado impedimentos de acesso dos quilombolas a recursos como água, eletrificação, coleta de lixo e o transitar entre o mato e o muro oferecendo riscos as crianças e mulheres quilombolas. 

 Riscos estes relacionados à contaminação da água, curto-circuito na rede elétrica e até mesmo assaltos no percurso entre o muro e o matagal, entre outros. Com um olhar desanimado, o senhor Paulo Correia diz que “poderiam fazer um porto”, uma saída decente para a comunidade. Receber a titulação da terra e ter a garantia de acesso a esses recursos, para a presidente Stefany é “não ser esquecido” .

Figura 8 – Certidão de autodefinição – FCP, 2013

Fonte: Acervo da AQF2C (2024).

 Os quilombolas trabalham com pesca e iscas (homens e mulheres) alternando o uso da única chalana que possuem. Também buscam a sobrevivência através do trabalho na construção civil. As mulheres como diaristas, deixando os filhos pequenos aos cuidados de outras mulheres quilombolas. Uma vez que não há oferta de creches próximas à comunidade. 

 A maioria dos estudantes frequentam as escolas próximas, por exemplo, a E.E. Júlia Gonçalves Passarinho e a E.M. Luís Feitosa Rodrigues. Ainda alguns por não conseguirem vagas nas citadas escolas, estão matriculados na E.E. Maria Leite, bem distante da comunidade.
 Em seus saberes e fazeres, o uso de plantas medicinais inclui o boldo com água e chá do broto de tarumã para o tratamento de doenças.  Stefany conta que seus pais sempre fazem os chás e que conheceu as ervas por volta de seus 12 anos. O boldo age contra a diarreia e o broto de tarumã contra dores abdominais. 

 As ervas são cultivadas na própria comunidade.
Em relação à cultura, passaram a participar recentemente (a partir de 2019) do Banho de São João. Criaram o Nhô Correia que se realiza em uma rua lateral, no dia 24 de junho, e tem o apoio de toda a comunidade e vizinhos não quilombolas. Stefany disse que “Nhô Correia é uma festa grande. 

 Toda comunidade participa unida”. Destaca-se também o time de futebol masculino “Os Guerreiros” que participa das atividades esportivas no município. Além de participaram representados pelo brasão da Comunidade no desfile cívico-militar juntamente com o movimento negro.

Figura 9 – Crianças quilombolas no desfile de aniversário de Corumbá.

Fonte: Acervo da AQF2C (2024)

Figura 10 – Time de futebol “Os Guerreiros”

Fonte: Acervo da AQF2C (2024)

Figura 11 – Time de futebol “Os Guerrerinhos”

Fonte: Acervo da AQF2C (2024)

Figura 12 – Banho de São João (Primeira participação)

Fonte: Acervo da AQF2C (2024)

Rodapé

 Paulo Correa, filho dos fundadores da comunidade AQF2C, atualmente com 46 anos, foi entrevistado pela autora desse texto, no dia 25/03/2024 em sua residência, localizada na comunidade.

 Stefany Correia Xavier, neta dos fundadores da comunidade e atual presidente da AQF2C atualmente com 24 anos, foi entrevistada pela autora desse texto, no dia 30/03/2024 na residência de seu pai Paulo Correa, localizada na comunidade.

Fontes orais:
CORREIA, Paulo. Entrevista. Entrevista concedida à pesquisadora Vanete Maria Moura Santos. Corumbá, MS, 2024.

XAVIER, Stefany Correia. Entrevista. Entrevista concedida à pesquisadora Vanete Maria Moura Santos. Corumbá, MS, 2024.

Fontes documentais:
ASSOCIAÇÃO QUILOMBOLA RIBEIRINHA FAMÍLIA CAMPOS CORREIA. Ata de
Reunião n.º 01/2012 AQF2C. Acervo pessoal da Família Campos Correia, 2012.

Referências:
SOUZA, João Batista Alves de. As trajetórias e resistências das comunidades quilombolas do Pantanal Sul-Mato-grossense [livro eletrônico]/ João Batista Alves de Souza. Porto Alegre: TotalBooks, 2021.

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